quarta-feira, 25 de março de 2009

Depois de alguns dias de silêncio e de dois posts queridos (do Alex e da Bruna) volto a postar.
Sei lá, um desânimo me abateu. Meu eu-lírico ficou mudo! Talvez é o medo de me tornar repetitiva nos posts, já que desde que voltei às aulas tenho estudado, estudado e estudado. É sério gente, não é papinho pra parecer intelectual (longe de mim). Para vocês terem uma noção da minha vida social: no último final de semana o ápice foi a ida ao super! Não estou reclamando, estou curtindo muito esse momento de afinco aos estudos, mas o problema é que estou monotemática, em tudo, qualquer conversa vai parar em teologia!
Bom, cumprindo promessa em post anterior, a seguir vai o resumo sobre fé e obras em Lutero, a partir do livro "A Teologia de Martim Lutero" de Oswald Bayer:

O tema fé e boas obras conectam a dogmática e ética. Junta o que cremos com o que fazemos, ou ainda, interroga se Deus é o sujeito da ética.
O Sermão das boas obras (escrito por volta de 1520) é considerado a primeira ética evangélica, ressaltando a fé acima das boas obras. A fé enfatizada no sermão por Lutero é aquela que não parte de si mesma, mas a fé como cumprimento do primeiro mandamento: “Eu sou o Senhor, teu Deus”. A fé é colocada acima das obras, pois Deus é que opera a fé, fazendo com que o ser humano saia do seu egocentrismo (sua situação como pecador), passando a receber e dar adiante aquilo que recebeu da parte de Deus.
A fé é o motivo, o poder para abrir-se e passar adiante o recebido, sendo chamado por Lutero de opus operum (obra das obras): a obra de Deus que torna boa as obras humanas.
Para Lutero, o que determina uma boa obra não é aquilo o que o homem acha que é bom, mas aquilo que cumpre o mandamento de Deus. A boa obra acima de todas é a fé, obra esta, partindo de Deus.
Com tal posicionamento de Lutero, alguns passam a interpretar que a prática de boas obras estaria sendo proibida pelo reformador. Lutero enfatiza que sua preocupação e vontade é ensinar obras de fé realmente boas.
Na igreja medieval a prática de obras vigorava de modo que o povo comum cumpria os mandamentos “mais fáceis”, e os mandamentos mais difíceis deveriam ser cumpridos por monges e monjas. Em Lutero, a fé passou a ser critério da boa qualidade de cada obra. As atividades cotidianas, realizadas de modo que no coração do crente houvesse a confiança de que estivesse agradando a Deus eram consideradas boas obras.
Com o direcionamento para o Catecismo Menor, Lutero enfatiza o primeiro mandamento como base para a interpretação de todos os mandamentos seguintes. Antes disso os mandamentos eram encarados como uma sequência aditiva, partindo do primeiro mandamento.
O cumprimento da fé nas obras não é uma conseqüência cronológica ou psicológica em Lutero, mas inevitavelmente lógica.
Com base em passagens bíblicas de 1Co 13.13 e também Rm 13.8-10 vem a tona a pergunta qual é a relação entre fé e amor. Na tradição escolástica o amor ganha a primazia, devendo vir antes da fé. Lutero aconselha que amor e fé não devem ser dissociados nem serem colocados um acima do outro. Fé e amor são trazidos como inerentes um ao outro, sendo que a fé como obra divina em nós transforma-nos, não sendo possível parar de praticar o bem.
Por meio da fé é que o ser humano é um ser livre, mas ao mesmo tempo se torna servo de todos. O compromisso mútuo assim como a luta pelo reconhecimento mútuo foi decidida pelo fato de Deus entregar-se pobre ao mundo por meio de Jesus Cristo, tornando-nos ricos por meio de sua pobreza. Lutero diz que através da fé, a pessoa é motivada a cumprir os mandamentos de Deus, dando glória a Ele e pagando o que lhe deve, servindo aos outros de boa vontade dentro das possibilidades, pagando a cada um.
Lutero diferencia em dois aspectos fé e obras. O aspecto total é que uma pessoa que crê está justificada. Lutero fala também do crescimento na santidade como “eliminação diária de pecados e renovação de vida”, não sendo o santificado que deve ser digno de atenção, mas Deus como aquele que santifica e sua palavra sendo o meio da santificação.
A era moderna soma progresso ético com progresso metafísico, ou seja, a progressão que acontece no campo da moral (progresso ético) acaba fundindo-se com a ideia do alcance da salvação (progresso metafísico). Com isso aconteceu também a esquecimento do significado do Batismo. Progressão ética só é possível no retorno ao Batismo, afirma Bayer.
Em relação a ideia iluminista de progresso assim como a busca pietista pela santificação no trabalho pelo reino de Deus é preciso viver baseado na diferenciação de lei e evangelho para não cair em engano. Tanto para o não-cristão assim como para o cristão a pregação da lei, assim como do evangelho se faz necessária.
Lutero traz a tona o chamado de Paulo no Novo Testamento “fostes chamados para a liberdade” (Gl 5.13). É necessária para as consciências levianas a lei, mas as consciências angustiadas necessitam do evangelho. O chamado de Lutero ecoou adiante de sua época , sendo considerado por alguns o propulsor da liberdade moderna. Mas ao mesmo tempo permanece o paradoxo: Lutero foi revolucionário ou conservador? Libertário ou ordeiro?
Martim Lutero pode ser considerado um eticista a partir de prédicas intituladas: Das Três Hierarquias falando sobre a pobreza, castidade e obediência, os três votos monásticos. Problemas e temas éticos estão contemplados nessas questões relacionadas com o que diz o evangelho.
Sobre a pobreza, Lutero toma como base o encontro de Jesus com o jovem rico em Mateus 19. Jesus diz ao jovem para vender seus bens e dar o dinheiro aos pobres e depois disso diz para segui-lo. Esta é considerada a obediência perfeita. Com isso, Lutero critica São Francisco de Assis e sua ordem, que passou a viver não do trabalho de suas mãos, mas do trabalho dos outros, ele ciita ainda Diógenes, com seu desprendimento hipócrita.
O monasticismo encarava o discipulado como a tentativa de cumprir os votos de pobreza, celibato e obediência absoluta. Para isso, Lutero achava então que os monges e monjas deveriam desistir do mundo. Os anabatistas, que num primeiro momento se encaravam como cristãos originários da Reforma, queriam realizar um seguimento tão radical a Cristo, que passaram a viver somente de acordo com o sermão do monte. Para eles, ser um cristão verdadeiro é se abster de assumir compromissos civis. O caminho que Lutero propõe é um caminho do meio em relação ao monasticismo e ao anabatismo, caminho difícil de se seguir, já que é difícil até de entendê-lo.
O radicalismo itinerante apregoado por Jesus, com a exigência de abandonar tudo, não teria sido vivenciado na comunidade posterior, sendo que nas cartas de Efésios e Colossenses aparecem os “catálogos domésticos”, ou seja, considerações para serem relevadas na vida familiar, doméstica.
Em referência ao discipulado ou vida em casa, especialistas do NT e o próprio Lutero não permitiram que as duas fossem vivenciadas. Jesus, aquele que chama para deixar casa e família (Lc 14.26) também fala acerca do corbã, ou seja, da destinação correta das ofertas a Deus, não devendo ser retirado daquilo que é de destinação aos pais, esposa, filhos e irmãos sendo oferecido a Deus.
Lutero como eticista toma o caminho mais difícil fazendo a diferenciação entre a primeira tábua da lei (1º ao 3º mandamento) e segunda (4º ao 10º mandamento). Em relação aos primeiros três mandamentos tudo deve ser abandonado e suportado. Em relação a segunda tábua, ela também deve ser levada em consideração, sendo que Deus também pede o cumprimento desses outros 7 mandamentos. Para Lutero, tudo deve ser deixado, assim como tudo deve ser preservado, dependendo da perspectiva.
Quanto a pobreza conforme o evangelho, Lutero trata de como lidar com os bens e dinheiro, para ele, ricos são assim chamados pelo evangelho aqueles que põem sua confiança em seu dinheiro e bens e não em Deus. Lutero ressalta também a avareza como o encurvamento em si mesmo, ingratidão, detectando-a como uma ação demoníaca, sendo que se rompe o processo de receber e dar, desligando-se do ciclo da vida.
Assim como a avareza é uma forma errada de se lidar com aquilo que é necessário para a vida humana, pervertendo o que é bom, a incastidade também é uma forma errada de lidar com o que Deus implantou no homem: a energia sexual. A castidade de acordo com o evangelho para Lutero não é a negação do instinto sexual, mas o uso apropriado dentro do matrimônio. Assim também o celibato não é condenado por Lutero, desde que parta do indivíduo para atender melhor a vocação.
O chamado a liberdade feito por Lutero constitui também a verdadeira obediência, dizendo respeito a cada um, reafirmando a verdade encoberta pelo voto monástico de que o ser humano somente é ser humano como ouvinte, somente é ser humano quando todo ouvidos. Ou seja, o ser humano ouvindo e respondendo, ele não apenas pode falar, mas tem que responder e responsabilizar-se. Obediência é a estrutura básica para a sociabilidade do ser humano. Discipulado tem valor quando é vivido no mundo, tendo relevância no viver diário.
A ética de Lutero conferiu nova relevância à pobreza, castidade e obediência, que haviam sido pervertidas pelo voto monástico. No Catecismo Menor cada mandamento retoma o primeiro, constituindo o reverso do evangelho. O Deus triuno que se dá, é o fundamento da ética cristã, permitindo uma vida liberta, na vinculação das prescrições da vida doméstica e também da ética do discipulado.


ABRAAASSS

Um comentário:

Alexander De Bona Stahlhoefer disse...

ética tem semmpre como fundamento na tomada de decisões a dogmática. Aquilo em que se crê determina o juízo ético numa situação. Serve tanto como norma ética, quanto para examinar se algo que decidimos foi correto ou não. Na prática siginifica que a fé é a mãe das boas obras.